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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Estepe temporário: conheça os riscos


Fabio Aro

Até há pouco tempo, ele era um tabu, visto com desconfiança. Afinal, aquele pneu que parecia de motocicleta era coisa de carro importado. Mas algo está mudando no porta-malas de alguns recentes lançamentos. De uma hora para outra, Honda Civic, Chevrolet Cobalt e Ford New Fiesta chegaram trazendo uma nova modalidade de estepe: em vez de um quinto pneu com a mesma medida dos demais, esses três lançamentos têm em comum o fato de virem com um reserva bem mais fino. Essa tendência se explica pelo fato de que raramente pneus novos sofrem furos, o que não justifica a existência de um estepe adicional na mesma medida dos demais.
Fabio Aro
Passando o estepe da frente para trás, as reações ao volante mudaram completamente
Entre as vantagens estão economia de espaço no porta-malas, menos “peso morto” (o que melhora consumo), menor custo de reposição e diminuição de risco de roubo – afinal, estepe de medida normal tem atraído muito a cobiça de ladrões. Por essas e outras, a tendência nos novos automóveis é a de que o estepe temporário seja algo reservado ao uso em emergências. Em alguns casos, aliás, até eles foram banidos. Superesportivos como a Ferrari normalmente adotam reparadores instantâneos. E alguns veículos com pneus muito grandes vêm com estepes murchos e compressores, para serem enchidos quando necessário (o que elimina ocupação desnecessária de espaço no porta-malas).
OK, estepe fino é bom, mas há algumas limitações, que mostramos neste teste exclusivo. Ao contrário do “titular”, o reserva deve ser utilizado no máximo a 80 km/h. Isso porque ele é muito mais fino que os pneus de uso normal. No Civic, enquanto os quatro pneus que dão expediente todos os dias têm medida 205/55 R16 (20,5 cm de largura na banda de rodagem), o de emergência não passa de 10 cm. Isso significa que, com ele rodando, a estabilidade fica comprometida, porque de um lado há muito mais área de borracha em contato com o solo do que do outro.
Ao contrário do “titular”, o reserva deve ser utilizado no máximo a 80 km/h
Andando com cuidado e respeitando as limitações momentâneas (pelo menos até chegar ao próximo borracheiro), não há nenhum problema. Mas e se, mesmo abaixo de 80 km/h, for necessário frear bruscamente ou fazer um desvio repentino de trajetória? No caso de uma frenagem de emergência, o sistema ABS tende a compensar algum desequilíbrio. Foi o que ocorreu com o Civic. A eletrônica trabalhou e saímos muito bem do que poderia ser um problemão. Entretanto e se o carro não tiver o sistema antitravamento? Simulamos essas situações de emergência. Veja o que aconteceu.
Fabio Aro
Slalom com estepe na frente
A primeira reação é de estranheza. De um lado, pneuzão, do outro, pneu que parece ter sido tirado de uma motocicleta. O visual da roda de ferro também não colabora para uma boa apresentação estética. Mas o negócio aqui é emergência. Portanto, ignore a roda fina e preta no Honda imaculadamente branco. Com o estepe temporário na frente, saímos para uma prova de slalom. O Civic exigiu um esforço maior do motorista, que precisou esterçar um pouco mais para que o sedã mantivesse a trajetória e não atropelasse os cones. Isso porque o pneu mais fino tende a escorregar, principalmente quando está do lado de fora da curva (estepe na esquerda, curva para a direita). Mas o carro manteve-se sob controle. Nessa situação, o condutor não teria muita dificuldade para contornar um eventual problema.
Frenagem com estepe na frente
Nesse caso, a distância de parada aumenta muito. Em frenagens, há transferência de peso da traseira para a dianteira. A traseira levanta, a frente afunda e todo o peso se apoia nos pneus da frente. Como em um dos lados há pouco contato de borracha com o chão (o que torna a frenagem desequilibrada), o ABS se esforça para manter as coisas sob controle – ouve-se com mais intensidade o trabalho do sistema prendendo e soltando as rodas para manter o veículo em linha reta. O carro não roda (o que provavelmente aconteceria caso o veículo não tivesse sistema antitravamento), mas a distância aumenta. Para se ter uma ideia, a 80 km/h, o Civic com pneus normais precisou de 27,9 metros até parar completamente. Com o estepe, foram necessários 30,1 metros, 2,2 metros a mais, acréscimo de quase 10%.
Fabio Aro
Slalom com o estepe na traseira
É a situação mais perigosa. Colocamos o pneu reserva do lado esquerdo e saímos para uma sequência de curvas para os dois lados, a cerca de 50 km/h – portanto bem abaixo do limite de 80 km/h recomendado pela montadora. Com a curva para a esquerda, a carroceria se apoia sobre os pneus do lado direito e o Civic mantém a trajetória, porque encontra borracha suficiente para manter a estabilidade. Com a curva para a direita, enquanto o peso vinha para os pneus do lado esquerdo, a escassa oferta de borracha não dava conta, e o Civicescorregou perigosamente de traseira, o que poderia causar uma rodada numa situação real, caso o motorista não reagisse com um contra-esterço no volante. O resultado foi um slalom totalmente irregular: controlada para o lado esquerdo e com a traseira derrapando nas curvas para a direita.
Frenagem com estepe na traseira
Em curvas, o pneu reserva na traseira deixou o Honda Civic muito mais instável do que na dianteira. Já nas provas de frenagem ocorreu exatamente o oposto. Na frente, o controle foi bem mais difícil e a distância de parada aumentou. Atrás, a operação de frenagem foi bem mais fácil. Com a transferência de peso da traseira para a frente, as rodas de trás têm menos responsabilidade no momento de parar o veículo (ao menos nas condições do teste, feito somente com o motorista). Esse é o motivo pelo qual as pastilhas de freio dianteiras se desgastam muito mais do que o conjunto traseiro (seja ele a disco ou a tambor). A 80 km/h, o sedã da Honda precisou de 28,9 metros até parar completamente, um metro a mais do que o necessário com os pneumáticos normais, e 1,2 m a menos do que com o estepe na dianteira.
Fabio Aro
O gordo e o magro
Eles têm pouca coisa em comum, mas em conjunto funcionam muito bem. O pneu de medida padrão é largo e foi desenvolvido para garantir estabilidade no seco e no molhado, por milhares de quilômetros. A questão é que um conjunto como o do Civic é grande, pesado e caro. O estepe, aliás, foi o responsável por sacrificar boa parte da capacidade do porta-malas do Civic produzido entre 2006 e 2011. Graças à adoção do estepe temporário, a linha 2012 do modelo acomoda muito mais bagagem. Segundo a Honda, no Civic que está saindo de linha, o conjunto pneu/roda pesa cerca de 20 kg. Já o estepe temporário tem aproximadamente 10 kg. Assim, sem contar a redução de espaço, essa economia de 10 kg representa menor consumo de combustível. Outro fator importante é a redução de gastos em caso de reposição. A Honda ainda não divulgou o preço do estepe temporário, mas o pneu normal do Civic (205/55 R16) custa cerca de R$ 400, enquanto a roda soma mais R$ 225 a essa conta. Por isso, não faz o menor sentido gastar tudo isso e deixá-lo guardado tomando espaço no porta-malas! O estepe temporário resolve o dilema.

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